quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Crise no antigo sistema

Muito tem sido dito a respeito de como uma pessoa boa acaba realizando ações que muitos acham que não cabiam em suas maneiras de agir. Sentir isso na pele mostra como a carne e o osso são frágeis. Atitudes consideradas impensáveis em um momento são em outro admissíveis. Desvirtuação? Falta de bases emocionais e psicológicas? Não. Às vezes é necessário mudar. Mudar para se sobreviver. Mas até que ponto esse mudar é benéfico? Não que mudar seja maléfico. Mas se a mudança atingir um nível em que o indivíduo inicial deixa de existir? Se a alteração atingir bases tão profundas que a metamorfose operada for além dos limites e tornar a pessoa em questão a ponto de descaracterizá-la?
A questão aqui é, a meu ver, até que ponto um anjo pode cair sem se tornar um demônio? Até que ponto uma pessoa suporta se modificar como forma de adaptação sem que sua essência seja completamente alterada?
Vamos a pontos interessantes a serem mencionados, mesmo que minimamente.
Uma pessoa não altera sua constituição sem uma necessidade. É da natureza do homem se modificar, mas essa modificação só é operada se for criada uma demanda. Essa demanda, por sua vez, tem um peso, e esse peso é que determina o grau de modificação. Então vamos ao segundo ponto.
A determinação da modificação só é operada a partir do momento em que o indivíduo tenta assimilar o estímulo esterno. Sendo assim esse segundo ponto tem a ver com a capacidade do indivíduo se adaptar. Esta adaptação ocorre diferenciadamente em cada um de nós. Cada ser humana se adapta de uma maneira às diversas situações. Vamos ao terceiro e último ponto.
A dialética produzida dessa fricção entre esses dois fatores anteriores é que resulta na modificação do indivíduo, sendo assim, o resultado varia muito dependendo da situação em que as coisas acontecem.
Qual a conclusão que chegamos? Nossa conclusão eu não sei. Não estou dentro da mente de todos nós. Sei minimamente a minha conclusão. Então vamos a ela.
Iniciado o processo uma série de etapas acontecem. A maneira como as coisas são percebidas é o primeiro estágio no desenvolvimento. O mundo aos olhos do indivíduo se modifica. Esta alteração na sua percepção é o primeiro passo. O segundo fator a a maneira como ele mesmo passa a interagir com o mundo. Essa etapa é facilmente perceptível por quem convive com a pessoa. Assim é aí que percebemos as loucuras, as tristezas, as quedas de rendimento, as apatias, os sumissos, as raivas... Essa série de modificações são percebidas facilmente, no entanto a modificação interna operou anteriormente a essa etapa e vai operar por muito tempo criando essas reações que são na verdade mecanismos de defesa frente aos estímulos do meio.
Agora chegamos no ponto chave. Temos um movimento interno, temos um movimento esterno. Quando o anjo se torna o demônio? É difícil dizer. Mas o processo sempre é muito atribulado. Mesmo que não aparente. Pois as mudanças externas são simples reações e não mudanças efetivas na estrutura interna da essência. Mas é claro em certos casos. Muitas vezes se percebe que a modificação tem seu auge quando a pessoa se caracteriza como seu inimigo. Isso mesmo, o anjo se torna demônio quando sua postura não é mais a sua, mas sim a de su antagonista no mundo social.
As atitudes humanas são muito mais complicadas do que imaginamos. Esplicar as nossas ações compete a nós mesmo. O olhar de quem está por fora do processo vale muito pouco ou nada em relação a quem o vive.
Isto significa que a queda de um anjo, ou seja, o valor real da deterioração de seus valores só pode ser avaliada por ele mesmo. A noção de queda só existe em sua mente. O limite de tal queda, onde ele se tornará o demônio só existe, por sua vez dentro de si próprio. Mas é bom que se deixe claro, o inimigo aqui sempre existiu dentro do indivíduo. Dentro de nós existe o que mais odiamos. O sentido da queda é apenas o de operar uma escolha entre o que interpretamos para o mundo. É escolher se vamos ser bandidos ou mocinhos.