segunda-feira, setembro 22, 2008

As poesias

Ao silencio entrego minha vida, acho que é assim que todo poeta começa por pensar uma poesia. E é assim mesmo que eu faço. Eu digo as coisas da maneira mais metafórica possível pra ver se a dor de ficar calado passa e eu suporto viver embebido na atmosfera ácida e sem gosto de um mundo que não gosta de escutar nada que não tenha a ver com o que todo mundo já disse. Sempre as mesmas ideias de vida, sempre as mesmas ações e os mesmos resultados esperados. Mas não adianta um peixe nadar contra a correnteza, a correnteza sempre é mais forte do que a força de um único peixe. Mas se todos os peixes deste rio resolvessem nadar da maneira que realmente seus corações pedem que eles nadem acho que as águas subiriam as cachoeiras e tudo seria diferente. Aí talvez as minhas metáforas deixassem de ser necessárias e eu pudesse escrever da maneira que acho que devo.

Medo de Sonhos

A vida de um dia:
O cansaço de um dia...
As tristezas de um dia...
E as alegrias nas migalhas do tempo que sobrou...

O que são os sonhos senão vontades?
E que são as vontades?
São nada mais que nossas potencialidades desejadas.
Mas nem sempre possíveis

Por isso tenho medo de sonhar
Porque o que quero nem sempre é o que posso
Porque os pesadelos me mostram o que não quero
Porque eu não quero, e por isso não desejo

Já os sonhos não
Estes me mostram o que quero e muitas vezes não posso
Não que eu não seja capaz
Só não me é permitido

Que por não ser permitido
Por não ser livre de penalidades
Tem seu preço
Que eu sempre pago acordado

E ainda assim
Minha mente cisma de sonhar
Toda noite todas aquelas coisas boas
Aquelas que eu não posso ter

E quando eu fecho os olhos
E tento esquecer do mundo do dia-a-dia
Eu lembro da vida que tenho
Enquanto durmo

E ao fugir da realidade
Ao criar meu mundo de fantasia
Me entorpeço de ilusão
Para suportar as dores de um dia

O Selo

Sobre a rocha em forma de coração
Que hoje pulsa em meu peito
Colei um selo de ferro
Para tornar esta pedra que já é dura
Impenetrável aos Males
Do antigo dono que hoje ela ocupa lugar

Não sinto mais dor
Não busco mais uma distante felicidade
Contento-me com o que meus braços alcançam
Mesmo que na maioria das vezes
Eu agarre apenas o vento

Não existe a falta de algo que nunca se teve
Que apenas existiu na minha cabeça
E os males do platonismo que um dia me inseri
Não me afastam mais da realidade

E este selo que eu mesmo criei
No mundo da minha imaginação
Deixa-me viver mais feliz

Com os cacos de mim em minhas mãos
Me recrio com uma pedra no lugar do coração

Colada e protegida com um selo de ferro

O homem transparente

O que ele vê quando olha pra si mesmo?
O que os outros vêem nele quando tentam enxergar a si mesmos?
Do que é feito esse homem que ninguém faz questão?
Para que serve toda essa justiça num mundo de figuras opacas?

A si mesmo se vê não como uma verdade
Tão pouco como a pessoa mais certa do mundo
Enxerga-se como o mais errado que existe
Pois diz coisas que ninguém faz questão de ouvir

E quando olham para ele com seus olhos
Olhos de desprezo ou clemência
Não vêem mais que um louco ou uma criança
Que fala coisas que ninguém quer ouvir

Nem de vidro, não é de gelo
Nem de qualquer outra coisa material
Mas daquilo que a gente perde quando cresce
Aquilo cujo nome exaltamos, mas as conseqüências abominamos

E ele foi feito assim desse jeito
Pois tudo que faz é só sofrer
Em meio à gente que faz questão de não escutar
As coisas que deveriam ser ditas