sexta-feira, março 20, 2009

Biografia

O Paulo chegou de mansinho como quem não queria muita coisa. Com cabelos grandes e barba mal feita, certamente era o calouro mais aborrecido da turma. Ficava calado, não falava com ninguém [e nem fazia questão]. Na pretensão única de estudar, o Preto [que mais tarde descobriu que não era preto] não queria nada além de ler, ler, ler. Ironicamente, foram os livros que nos uniram. Começamos a estudar em grupo devido ao medo das provas do Jonas. E o aborrecido se tornou mais aberto e amigável. Nossos assuntos se alargaram. De História partimos para filosofia de boteco, mulheres, bebidas [não alcoólicas]. E também, aquelas intermináveis narrações de histórias de desenhos animados e filmes que só ele gosta [mentira, muita gente gosta].
Com a vivência física, descobrimos que nosso amigo tinha fortes tendências maníaco-depressivas. Mais que isso: percebemos que suas qualidades marcantes e constantes: mal-humorado [inconformado com as injustiças], língua-solta [sincero e transparente] e mentiroso [lúdico e imaginativo] eram seu charme. Como sofremos na mão desse caboco! Ficamos surpresos quando nos deparamos com a primeira crise do nosso amigo mimado [amado intensamente pelos pais]: ele se isolou do mundo e virou várias noites na BBT a fim de ler, ler, ler [ou seja, em bom português, fiz o que todo mundo devia fazer]. Preocupados com essa dura recaída, seus amigos o levaram a um profissional. Na falta de uma palavra que definisse seu estado mental caótico, o quadro clínico foi determinado como sendo de “meninisse aguda” em estagio avançado.
Nestes anos todos, inúmeras histórias vivemos. A criação da Panela; as postagens no blog; luais mal sucedidos; butecagem no cara-que-não-sabe-nada-de-história-antiga depois da aula; café da manha no RU, além dos “estudos” e análises sócio-anatômicas das mulheres que subiam as escadas da BBT; diversas seções de filmes na casa das meninas [que falta isso vai me fazer]; as conversas melancólicas no terceiro andar do PVB [isso não vai fazer falta nenhuma]; discussões e cantorias na reta ao fim do dia [isso vai fazer muita falta]; dedicatória para o primeiro pedaço de bolo de seu aniversário [Hahaha]; festas memoráveis na casa das meninas [sempre elas]; torresmo, ... e viola; “me dá um beijo senão eu pulo daqui”; panela oculta no fim de ano; “Kênia, um cachoro me lambeu”; “Larissa eu to humilhado, Talita eu to humilhado, Luana, eu to humilhado”; congressos, “Sorim, tem um espeto fincado na minha mão”; 9FEV; 12MAI; crise de riso no caso da vendinha em BH; passeios de ambulância; empréstimos de grana aos “mais” necessitados [mais gastadores, porém mais, muito mais ricos]; os relatos obscuros do caderno amarelo [caderno das desilusões amorosas]; os “Momento Tedds” e o Leão.
Em fim, uma série de situações eternizadas na memória e no coração de cada um de nós. [E principalmente em mim, afinal, NUNCA TIVE TÃO GRANDES AMIGOS, E QUE A DISTÂNCIA NÃO SEJA CAPAZ DE NOS SEPARAR]

quarta-feira, março 18, 2009

Este quadro circular de bordas arredondadas e ondulantes

Em meio a estas montanhas
perdido em suas curvas
infinitas e sensuais
se encontra o poeta
que ao contemplar maravilhado o céu
percebe a pequenez de sua existência
frente a beleza sem força da terra das alterosas

Se não há oceano,
mar o há
pois tão belas nuances
nada mais são
que na poesia do geógrafo
um mar de morros
que se impõe ao viajante
presenteando-o com a familiaridade
de uma paisagem que a cada horizonte
se torna mais bela e única

E o que me dizem da neve?
ela toma nossos cafezais
e a eles premia com encanto polar
que nada mais é do que
o fervilhar incessante da
vida em festa,
ávida em nos premiar com seu sabor
amargo, azedo
mas adocicado na medida certa
pelos sorrisos de nossas mulheres

O que me dizes deste quadro?
que acima tem um céu com nuvens sopradas por Deus
e abaixo esta gente
que apesar da eterna desconfiança nos olhos
é acolhedora e gentil
e estão todos dentro deste
cuja moldura é circular
e de bordas arredondadas e ondulantes