terça-feira, outubro 13, 2009

A-poética

Os números não explicam tudo
Mas quem disse que eu quero todas as respostas?
Quero as respostas possíveis
Não quero as respostas poéticas
Nem quero as respostas metafísicas
Quero a inconsistência das respostas momentaneamente certas
As que deixam uma pulga atrás da minha orelha me agradam mais

Gosto dos problemas insolúveis
Esses que incomodam muita gente
Fico satisfeito não com sua solução
Mas com seu efeito naqueles preocupados
Em não ter o chão debaixo dos pés
Ou o calor de uma muleta explicativa
Apavorados pela maravilhosa, e não milagrosa, inconstância de nosso universo

Gosto dos acasos
Gosto das injustiças da história da humanidade
Gosto dos dramas pessoais das pessoas
Não gosto da insana busca de respostas
Não gosto dos absolutamente certos
Muito menos dos absolutamente corretos

Amo esse mundo e busco entender parte dele
Sem a pretensão de que isso seja definitivo
Sem a vontade de me sentir completo
De me sentir confortável
E fugindo da alienação das respostas
Busco apenas o maravilhoso caos da ilusão da nossa realidade

sexta-feira, outubro 09, 2009

O tempo

O tempo voraz, que engole a esperança de outrora
Destrói principalmente aquilo que um dia foi importante
Mas que hoje não passa de um momento cinza
Como uma foto sem graça
Que não venceu a distancia nem o descaso alheio

Mas é que outras fotos precisam de espaço
E essas são em cores vivas, gritantes e quentes
E próximas
Você as vê e se identifica com esses instantâneos
Realmente fazem parte de sua vida

São novas, interessantes e acima de tudo
Ao alcance de suas mãos podem ser folheadas
Uma a uma substituem aquilo que já não tem mais função

Como se trocasse um céu de um hemisfério
Pelo de outro que não conhecêssemos
Outro novo, tudo diferente, com outros astros

sábado, agosto 08, 2009

Aquela esquina vazia

Ando e ando
Não importa o quanto avance
Aquela esquina que um dia tinha você
Aquela esquina
Da cidade onde moro
Hoje não tem mais ninguém
Só rostos que se repetem na estranheza dos dias
E na vastidão das passagens das semanas
Dos meses
Essa mochila já não é mais a mesma
As idéias não são as mesmas
As festas não são as mesmas
Por isso nem eu sou mais o mesmo
Os passos já não caminham para os mesmos lugares
Os amigos não moram logo ali
E essa saudade que teima
E me consome
E me vence todos os dias
Os finais de semanas solitários
Cercado de uma multidão
Aquela mulher maravilhosa que vi hoje no ponto
Perto daquela loja
Nunca mais vou ver em toda a minha vida
Não há mais lugares comuns
Os pés não se firmam no chão
O ar queima meus pulmões
Não vejo, nem sinto cheiro da terra
A terra ainda existe debaixo de todo esse concreto?
A humanidade existe debaixo de toda essa impessoalidade?
Quanto tempo vou resistir?
Quanto tempo vou existir?
Ainda existo?
Engrenagens não tem vontade própria
Quando eu era alguém
Porque alguns me conheciam
Achava tudo chato
Achava tudo sofrido
Agora, no meio desse vazio populoso
Apenas procuro você
Meu amigo
Naquela esquina distante
Que eu nunca alcanço
Mas que provavelmente ainda está lá
Fui eu que mudei
De perto daquela esquina que eu era alguém

Velho e encardido

Mais um dia
Mais um louco aqui nesse gabinete
E eu velho professor
De que me vale a maturidade
A experiência
Se minha velha cabeça já não funciona como antes
Sou só mais um...
Mais um velho que as pessoas respeitam
Mas elas me respeitam pelas coisas que fiz enquanto jovem
Curioso um velho ser respeitado pela juventude que a muito já se foi
Mas eu permaneço aqui
Apodrecendo enquanto o tempo não se cansa de mim
O que quer aluno?
Ávido de perguntas vazias?
Cujas respostas já as tem
Ou as pode ter com facilidade?
És tão vazio quanto eu já fui
E serás tão enferrujado quanto sou
Só me resta escutar as suas asneiras
É função dos velhos
Professor, como o senhor mesmo disse...
Blá, blá, blá...
E o marxismo...
Blá, blá, blá...
Mas o Weber...
Blá, blá, blá...
E a história cultural...
Blá, blá, blá...
Eu queria pesquisar a história das mulas na América pré-colombiana
Vinculada com o neo-colonialismo
E a expansão neonazista fatigada do século XXI
E acho que a fonte poderia ser a Wikipédia
Ou qualquer outra coisa fácil de se achar, ler e entender
Sim, acho isso tudo muito produtivo
Tudo muito relevante
A sociedade atual permite pensar muita coisa à respeito destes assunto
Inclusive mulas neonazistas fatigadas
Mas, como eu já disse em sala de aula
E você fez questão de repetir tudo aqui
Num exercício fantástico de memória
E de chatice discente
Isso é coisa não pra historiador
Acho que isso nem mesmo seria científico
Talvez um livro de ficção
Uma pornoxanxada
Ou um especial de fim de ano na tv aberta
Mas, infelizmente para o seu ímpeto criativo
Não passa de delírio
Aliás, e como anda sua transferência?
Há outros cursos mais informativos que poderiam aproveitar sua imaginação

segunda-feira, maio 04, 2009

Conceitos Inerentes?

Dica intensiva organizada gastando otário
“Segurança e bom conceito que inspiram as pessoas de talento [pessoas de talento], discrição, etc.”
“Deslealdade [leal?]”
“A faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência [consciência?]”
“A virtude de dar a cada um aquilo que é seu [o que é seu]”
Pancadaria angustiante utilizando loucura avançada
“Filhos de mesmos pais [obrigação]”
“Companheiro protetor [escolha]”
“Punição, castigo, réplica, revide [o que é seu].”
Dogma inerte ovacionado grandemente onívoco
“Sentimento de viva inquietação [inquietação] ante a noção de perigo real ou imaginário, de ameaça; pavor, temor.”
Paralelo antagônico umilhante litorâneo algorítmico
“Segundo a física: comportamento praticamente [praticamente] imprevisível exibido em sistemas que tem evolução temporal extremamente sensível a variações em suas condições iniciais [iniciais]”

domingo, abril 19, 2009

De olhos bem abertos

Às vezes olho para lugares que já vi e os enxergo de maneiras diferentes
Às vezes vejo meus amigos de maneiras diferentes
Às vezes não vejo nada e isso me preocupa
Mas me preocupa ainda mais as vezes que eu não quero ver nada

De braços bem esticados

Os sonhos são ilusões
Que fazem das nossas medíocres vidas
Um pouco mais do que elas realmente são
E nos fazem pensar
Que pensar não passa de uma mentira
Que incutimos em nos mesmos
Como forma de anestesiar
Os sofrimentos de nossa existência
E no meio desse devaneio
Acreditamos ter em mãos
Muita coisa além do que de fato temos
E imploramos por aquilo que não nos pertence
Como mendigos imploram por comida
Prisioneiros por liberdade
Moribundos pela vida
Apaixonados por amores não correspondidos
Mães por filhos que foram
E velhos mal humorados por companhia
Como se nossa existência
Dependesse daquilo que não nos pertence
Daquilo que não é nosso
Mas principalmente
Daqueles que não nos merecem

Brinquedo

Há muito tempo, quando eu ainda era criança. Quando os jogos eletrônicos e os desenhos animados me atraiam, quando a ingenuidade ainda morava em meu coração, quando menos esperava, ganhei um brinquedo. Gostei dele. E criança quando gosta é capaz de brincar durante horas a fio sem conseguir se desligar de seu objeto de entretenimento. Era um brinquedo que me atraia muito. E os motivos eram muito mais ligados a sua aparência do que a qualquer qualidade que despontasse de seu interior. Melhor eu explicar. Quando você olhava pra ele era capaz de saber que externamente era dotado de qualidades extremamente agradáveis. Era novo, tinha um design moderno, era colorido, mas exalava aquele ar de brinquedo de plástico oco. Não era um carrinho de fricção moderno, não era um novo jogo eletrônico cujos gráficos saltassem a vista, nem sequer era aquela bicicleta nova que te levaria ao topo daquele morro e que quando você descesse o vento no rosto e a trepidação fizesse você sentir liberdade, aquela liberdade próxima da dos pássaros que desligados do solo são capazes de avançar em todas as direções sem sofrerem das limitações de um corpo pesado preso ao solo.
A minha história com este brinquedo não foi semelhante a que eu tive com nenhum outro até então em minha vida. Esperava pouco das coisas de criança. Queria entender porque na maioria das vezes eu me encantava por brinquedos que não me retribuíam da forma como eu esperava. Sempre fui muito animado quando via uma coisa nova, e algumas vezes enxergava graça em brinquedos que já tinha acesso a mais tempo. Mas sempre perdia a graça, pois o ânimo que tinha de início era sempre frustrado pelo tipo de interação que os brinquedos me permitiam.
A interação com este foi, do ponto de vista físico, ideal. Formamos, durante algumas horas um par insolúvel que não podia mais ser pensado em separado. A intensidade das brincadeiras foi tamanha que é como se tivéssemos sido feitos juntos. Doce engano de uma inexperiente criança que acreditava ter conhecido seu brinquedo ideal, mas que infelizmente apenas ficou perdido. Mas o mundo é grande, o futuro promissor, outros dramas já haviam acontecido e outros estavam por vir.
Finalmente só restou aquele gosto ruim na boca por ter perdido o tempo com aquele brinquedo de plástico barato que ó serviu pra me entreter durante algumas horas. Mais tarde eu aprenderia, quando jovem, que este é o mesmo efeito que a bebida excessiva nos trás. Depois de uma noite de alegria regrada a ilusões causadas pelo álcool só nos restam o sabor amargo e a dor de cabeça durante até dias a fio.

quinta-feira, abril 02, 2009

Cordeiro

e ele mastigou aqueles dois bombons
tinha fome de comida, mas tinha mais fome de sangue
continuava carregando o mundo nas costas
e idéias incríveis na cabeça
e vivia cercado pelo lixo
era bom, muito bom
mas não era feliz por isso

talvez, se fosse capaz de esquecer
ou conseguisse se vingar
mas não era do seu feitio
não fazia parte de sua natureza
queria apenas poder respirar longe dali
mas não para onde iria
para aquele paraíso onde viveu
e que só agora sabe o quanto o fazia feliz

voltaram mais uma vez ao seu repertório aquelas canções
canções capazes de explicar seu estado de coisas
e por isso, capazes de acalmar aquele outro
que continuava com sede de sangue
que projetava sua vingança
que manipulará
envenenará
mentirá
porque gosta de ver o circo pegar fogo
e ele, de longe, ver todos aqueles palhaços em chamas

mas se os dois fossem só um?
se fossem capazes de pensar com apenas uma cabeça?
julgar com apenas uma lei?
não se engane meu amigo
a vida fez dele assim
mocinho e bandido num só
da maneira como a justiça deve ser feita
com os dois pesos em uma balança
alguém sereno e tempestuoso
capaz de realizar qualquer coisa

sexta-feira, março 27, 2009

Por onde anda esta menina?

Por onde anda esta menina
que com olhos de sapeca
mente de criança arteira
sorriso serelepe radiante
esta sempre a nos presentiar?

Ela anda por ai
cheia daquele delicioso mistério
que nos enche de curiosidade
nos assanha a mente
instiga nosa atenção.

E o seu coração?
Tem vários espalhados pelo mundo
que soltos
devido a sua constante ausência
vivem partidos a sofrer.

Mas sabe quem mais sofre com ela?
O coitado do tempo
que ano após ano
não é capaz de tirar o seu brilho
cada vez mais cintilante.

Parabéns pelo seu dia
parabéns pelo seu olhar de menina arteira
pelo seu misterioso coração apaixonante
mas, principalmente por esse seu brilho eterno
que encanta esse seu mundo que você tem nas mãos.

sexta-feira, março 20, 2009

Biografia

O Paulo chegou de mansinho como quem não queria muita coisa. Com cabelos grandes e barba mal feita, certamente era o calouro mais aborrecido da turma. Ficava calado, não falava com ninguém [e nem fazia questão]. Na pretensão única de estudar, o Preto [que mais tarde descobriu que não era preto] não queria nada além de ler, ler, ler. Ironicamente, foram os livros que nos uniram. Começamos a estudar em grupo devido ao medo das provas do Jonas. E o aborrecido se tornou mais aberto e amigável. Nossos assuntos se alargaram. De História partimos para filosofia de boteco, mulheres, bebidas [não alcoólicas]. E também, aquelas intermináveis narrações de histórias de desenhos animados e filmes que só ele gosta [mentira, muita gente gosta].
Com a vivência física, descobrimos que nosso amigo tinha fortes tendências maníaco-depressivas. Mais que isso: percebemos que suas qualidades marcantes e constantes: mal-humorado [inconformado com as injustiças], língua-solta [sincero e transparente] e mentiroso [lúdico e imaginativo] eram seu charme. Como sofremos na mão desse caboco! Ficamos surpresos quando nos deparamos com a primeira crise do nosso amigo mimado [amado intensamente pelos pais]: ele se isolou do mundo e virou várias noites na BBT a fim de ler, ler, ler [ou seja, em bom português, fiz o que todo mundo devia fazer]. Preocupados com essa dura recaída, seus amigos o levaram a um profissional. Na falta de uma palavra que definisse seu estado mental caótico, o quadro clínico foi determinado como sendo de “meninisse aguda” em estagio avançado.
Nestes anos todos, inúmeras histórias vivemos. A criação da Panela; as postagens no blog; luais mal sucedidos; butecagem no cara-que-não-sabe-nada-de-história-antiga depois da aula; café da manha no RU, além dos “estudos” e análises sócio-anatômicas das mulheres que subiam as escadas da BBT; diversas seções de filmes na casa das meninas [que falta isso vai me fazer]; as conversas melancólicas no terceiro andar do PVB [isso não vai fazer falta nenhuma]; discussões e cantorias na reta ao fim do dia [isso vai fazer muita falta]; dedicatória para o primeiro pedaço de bolo de seu aniversário [Hahaha]; festas memoráveis na casa das meninas [sempre elas]; torresmo, ... e viola; “me dá um beijo senão eu pulo daqui”; panela oculta no fim de ano; “Kênia, um cachoro me lambeu”; “Larissa eu to humilhado, Talita eu to humilhado, Luana, eu to humilhado”; congressos, “Sorim, tem um espeto fincado na minha mão”; 9FEV; 12MAI; crise de riso no caso da vendinha em BH; passeios de ambulância; empréstimos de grana aos “mais” necessitados [mais gastadores, porém mais, muito mais ricos]; os relatos obscuros do caderno amarelo [caderno das desilusões amorosas]; os “Momento Tedds” e o Leão.
Em fim, uma série de situações eternizadas na memória e no coração de cada um de nós. [E principalmente em mim, afinal, NUNCA TIVE TÃO GRANDES AMIGOS, E QUE A DISTÂNCIA NÃO SEJA CAPAZ DE NOS SEPARAR]

quarta-feira, março 18, 2009

Este quadro circular de bordas arredondadas e ondulantes

Em meio a estas montanhas
perdido em suas curvas
infinitas e sensuais
se encontra o poeta
que ao contemplar maravilhado o céu
percebe a pequenez de sua existência
frente a beleza sem força da terra das alterosas

Se não há oceano,
mar o há
pois tão belas nuances
nada mais são
que na poesia do geógrafo
um mar de morros
que se impõe ao viajante
presenteando-o com a familiaridade
de uma paisagem que a cada horizonte
se torna mais bela e única

E o que me dizem da neve?
ela toma nossos cafezais
e a eles premia com encanto polar
que nada mais é do que
o fervilhar incessante da
vida em festa,
ávida em nos premiar com seu sabor
amargo, azedo
mas adocicado na medida certa
pelos sorrisos de nossas mulheres

O que me dizes deste quadro?
que acima tem um céu com nuvens sopradas por Deus
e abaixo esta gente
que apesar da eterna desconfiança nos olhos
é acolhedora e gentil
e estão todos dentro deste
cuja moldura é circular
e de bordas arredondadas e ondulantes

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Não foi fácil

Os dias se passaram
As noites foram dormidas ou não
As aulas foram assistidas
Para as provas estudei?
Para os amigos estive presente?
Tive inimigos?
Tive amores?
Tive doenças?
Escolhi o caminho certo?
Obtive êxito?
Houve vitória no fim das contas?
Aprendi,
Socorri,
Permaneci de pé,
Sobrevivi,
Cheguei até aqui,
Com minhas próprias pernas,
E no final das contas vencemos todos nós.

Pois não acredito em vitórias individuais.
Quando se ganha, se ganha com alguém.
E para alguém.
Obrigado a todos os participantes da nossa vitória.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ela

Sorrisos,
abraços,
beijos.
E nada mais!
Como posso sentir tanta falta
de alguém que acabei de conhecer?
Como suportar a distancia?
daqueles sorrisos
daqueles abraços
daqueles beijos
E a idéia de que foi tão pouco?
É que certas situações inesquecíveis
são momentos que
boca, braços, mãos e lábios,
mesmo na escuridão,
agem em sintonia.
Como se encontrassem nela
aquela que completa
o vazio dentro de mim.